Ana Carolina: ninguém me disse, eu vi

Por Cláudia Boëchat
A primeira vez que vi Ana Carolina foi em um barzinho em Juiz de Fora, terra natal minha e dela. Não me lembro a data exata, mas deve ter sido em dezembro de 1998. Eu estava na cidade para as festas de final de ano e fui com amigos e parentes a uma roda de chorinho. O choro acabou e nós ficamos lá. Percebemos que montavam um pequeno palco, com microfone e um banquinho. Perguntamos ao garçom quem ia se apresentar e ele disse: “Uma moça, Ana Carolina”. Nunca tinha ouvido falar. O bar estava vazio, por volta das 19h, naquele horário no qual quem está, está saindo; e quem vem, ainda não chegou.

Vi um dos músicos do chorinho, o flautista Estévão Teixeira (dia desses escrevo sobre ele), bom amigo e artista excepcional, perto da porta. Perguntei a ele se a tal Ana Carolina era boa, se valia a pena ficar para ver o show. “É ótima. Fique e assista porque tenho certeza que você vai gostar muito”, me garantiu. Acertou na mosca.
Ana Carolina se apresentou sozinha. Ora tocando violão, ora só com o pandeiro. Seu timbre vocal tomou conta de tudo. Os arranjos diferenciados de canções já conhecidas nos deixaram de queixo caído. Ninguém tinha dúvidas de que aquela moça era uma artista incomum e de que ela iria longe.
Terminado o show, chamamos Ana Carolina até a nossa mesa para perguntar se ela não tinha um CD para nos vender. Ela disse que não, que já cantava há muito tempo, mas que se recusava a gravar um CD independente. Só gravaria quando assinasse contrato com uma grande gravadora, tendo um “esquemão” para distribuição do álbum. Esse negócio de ficar vendendo CD em barzinho não era com ela não. Atrevida, né? Ok, ficamos muito bem impressionados, porém, a ver navios. Por pouco tempo.
Cerca de uns seis meses depois, eu e meu marido estávamos em casa, em São Paulo, quando ligamos a TV e vimos Ana Carolina no programa da Xuxa. Dias depois, no Faustão. Em seguida, suas músicas estavam em trilhas de novelas globais. Uma ascensão meteórica. E, claro, a voz de Ana Carolina não se confunde. Era ela mesma que tínhamos visto tocar no barzinho em Juiz de Fora há menos de um ano. “A danada chegou lá!”, foi o que comentei. Que bom.
Logo comprei seu primeiro CD (Ana Carolina, 1999). Apesar do grande sucesso da época ser a canção “Garganta” (de Totonho Villeroy), que fez parte da trilha sonora da novela Andando nas Nuvens, e do CD ter emplacado uma série de novos hits nas rádios, a minha preferida é uma música antiga, composta em 1962 por Evaldo Gouveia e Jair Amorim: “Alguém me Disse”. Adorei a leitura que Ana Carolina fez dessa música. O arranjo é forte como ela, impactante. A gravação, na minha modesta opinião, está entre as que merecem destaque na MPB contemporânea. Entre todas as músicas que Ana Carolina já gravou, é a que mais me impressiona. Chega de falar. Ouçam.
Compartilho com vocês as duas versões:

A original, gravada por Anísio Silva:





E a de Ana Carolina:


 

Postado em 24 de Fevereiro de 2012 pela equipe do blog

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