Ana Carolina faz CD com formação menor, mas não contém excessos

Luiz Fernando Vianna - O Globo


RIO - Os pós-modernismos e multiculturalismos tornaram deselegante dizer que não é bom algo que tenha um certo peso social — seja por afirmar uma diferença em relação ao que é hegemônico, seja por ter grande apelo popular. A muito bem-sucedida Ana Carolina tem voz potente e interpretação intensa — o que é relevante em tempos de vozes femininas clean —, mas a maioria de suas músicas é ruim, e o tratamento que dá às alheias não as ajuda.

O ao vivo "Ensaio de cores" é um projeto à parte em sua carreira: acompanhou-se de três mulheres instrumentistas (Delia Fischer nos teclados, Gretel Paganini no violoncelo, Lan Lan na percussão) para fazer shows em que vendia seus próprios quadros, cuja renda foi revertida para projetos de prevenção e tratamento do diabetes.
O formato enxuto não estimulou Ana Carolina a baixar o volume da voz em canções que, como bons intérpretes já provaram, sugerem alguma delicadeza, casos de "Alguém me disse" (Evaldo Gouveia/Jair $) e "Força estranha" (Caetano Veloso). Em "Rai das cores" (Caetano), apesar do arranjo de poucas variações, e "Azul" (Djavan), apesar do maneirismo da versão solo voz-e-baixo, há mais contenção. "O violão" (Sueli Costa/Paulo César Pinheiro) é um número de saudável suavidade.
Das músicas próprias, vale destacar o samba inédito "Pra tomar três" (com Edu Krieger) — "Saí pra tomar e três e voltar às onze/ Acabei tomando onze e voltando às três". Predominam em outras faixas (suas e de colaboradores como Antônio Villeroy), como "Problemas" (na trilha de "Fina estampa"), a receita que consagrou a artista: canções de amor rasgado, às vezes com verniz intelectual, quase sempre atiçando o público feminino. Muita gente gosta.

Fonte: Extra-Globo
Postado em 29 de Novembro de 2011 pela equipe do blog

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