"Com elas eu me sinto a vocalista de uma banda", diz Ana Carolina sobre show gravado com três mulheres instrumentistas
Ana Carolina, a percursionista Lan Lan, a pianista Délia Fischer, a violoncelista Gretel Paganini |
ALEXANDRE COELHO
Colaboração para o UOL, do Rio
Colaboração para o UOL, do Rio
Ela usa tintas a óleo ou acrílicas, ora com pincéis, ora com as mãos. Explora técnicas de pintura como as do americano Jackson Pollock e, nas horas vagas, é multi-instrumentista, canta e compõe. Este é o atual retrato da cantora Ana Carolina, que este mês lança “Ensaio de Cores Ao vivo”, projeto que inclui CD, DVD e exposição de seus quadros. Para contar detalhes do novo trabalho, a artista recebeu a reportagem do UOL em sua casa, no bairro do Jardim Botânico, na zona sul do Rio, em um bate-papo em que abordou música, artes plásticas, suas preferências e sua relação com o diabetes.
A ligação entre Ana Carolina e as artes plásticas surgiu no início dos anos 2000, durante a produção do álbum “Estampado”. Segundo a cantora, foram seis meses em que ela ficou plenamente concentrada na realização do disco, período em que a pintura apareceu como uma espécie de válvula de escape. “Eu ficava só no estúdio (gravando) e em casa, pintando. Depois desse disco, eu não consegui mais largar a pintura. Passava horas pintando. Nos fins de semana, as pessoas me chamavam para sair e nada me importava, o mundo era preto-e-branco. Eu queria ficar ali, pintando”, recorda.
Pra mim, o principal, coisa que nem todos os diabéticos concordam, é fazer o exame regularmente. Eu faço 12 exames de ponta de dedo por dia. Ana Carolina, sobre monitorar a glicemia até 12 vezes ao dia
Pra mim, o principal, coisa que nem todos os diabéticos concordam, é fazer o exame regularmente. Eu faço 12 exames de ponta de dedo por dia. Ana Carolina, sobre monitorar a glicemia até 12 vezes ao dia
Depois de acumular mais de 30 telas espalhadas pelos quatro cantos da casa, Ana Carolina percebeu que era preciso encontrar um destino para suas criações. A solução que mais lhe agradou foi organizar uma mostra e doar parte do dinheiro da venda dos quadros a uma instituição filantrópica. Como a artista tem diabetes do tipo 1 desde os 16 anos, a beneficiária da causa foi a Associação dos Diabéticos. Veio daí a ideia de montar um show, posteriormente batizado de “Ensaio de Cores”, que também incluísse a exposição (e venda) de seus quadros no foyer dos teatros por onde o espetáculo passasse. O sucesso da turnê acabou gerando a gravação do CD e DVD “Ensaio de Cores Ao vivo”, em setembro, no Citibank Hall, no Rio de Janeiro.
Como se tratava de um projeto totalmente singular em sua trajetória, Ana Carolina decidiu buscar também novos matizes para sua música. E aproveitou para dar vazão a outro desejo: tocar com uma banda formada só por mulheres. O resultado acabou mexendo com a própria percepção de Ana Carolina no palco. “Com os músicos que me acompanham, eu me sinto uma cantora. Mas com elas eu me sinto a vocalista de uma banda, parece que a gente tem uma banda. Tanto que não teve participação especial. Era só a gente tocando, uma banda. E foi um negócio tão bacana...”, comemora.
Ana Carolina toca “As Telas e Elas” em SP
Delia Fischer (piano), Gretel Paganini (violoncelo) e Lan Lan (bateria e percussão), além da própria Ana Carolina (voz e violão), formaram o time responsável por achar esta nova sonoridade, acústica e mais intimista. Ao mesmo tempo, era preciso encontrar algumas canções que tivessem relação com o conceito do trabalho. “Por isso eu escolhi “Rai das Cores”, do Caetano; e “Azul”, do Djavan. E compus “As telas e elas”, especialmente para este trabalho. Depois, outras canções foram surgindo”, conta a cantora.
Se na parte musical do projeto Ana Carolina confiava em sua longa experiência na estrada, como pintora ela sentiu a insegurança de uma iniciante. Antes de fazer a exposição, a artista então convidou alguns amigos, pintores de ofício, para avaliarem o trabalho. Amigos estes que deram conselhos e ajudaram-na a organizar o material que seria exposto. “Quando eu comecei a pintar, parecia um músico de bar, um garoto que toca rock, bossa nova, samba... Que ainda não sabe qual é a sua onda. Eu usava várias técnicas”, admite.
Mesmo com o auxílio de amigos artistas plásticos, a inauguração de uma mostra de quadros, para uma cantora e compositora, gerou uma ansiedade típica de uma estreante. “No palco, eu arrumei uma maneira de vencer a timidez. Eu sabia que, se quisesse fazer aquilo, teria que subir no palco e tocar, encarar a situação. Mas em uma exposição não tem a música ali, junto, como em um show. As telas estão ali e as pessoas querem discutir com você. No dia da exposição eu parecia uma noiva. Não sabia direito o que fazer. Foi uma experiência diferente, como uma iniciante. Era algo novo”, lembra.
Ana Carolina abre exposição Ensaio de Cores na Galeria Romero Britto em SP (5/12/11) |
Se encarar uma mostra com seus quadros foi difícil, doar parte do dinheiro arrecadado à Associação dos Diabéticos e mesmo lidar com a doença já são coisas naturais para Ana Carolina. Segundo a cantora, cuidar da saúde é algo que vira corriqueiro, “como escovar os dentes”. O mais importante em seu caso, diz a artista, é monitorar a glicemia (taxa de glicose no sangue) permanentemente, o que ela faz, em média, 12 vezes por dia. "Faço ao acordar, duas horas depois do café, antes de malhar, depois de malhar, antes do almoço, duas horas depois do almoço, no meio da tarde, antes do jantar, duas horas depois do jantar... Se eu for sair e ficar acordada até mais tarde, então, faço até umas 15 ou 16 vezes por dia", diz.
“O que me ajuda a me controlar é a informação que eu tenho sobre mim. Se eu faço o exame de ponta de dedo e vejo minha glicose o dia todo, eu sei exatamente como estou e me corrijo, se for preciso. O diabético não pode parar de lutar nunca, tem que lutar sempre. Ele tem que saber isso”, ensina. Satisfeita com o lançamento de “Ensaio de Cores Ao vivo”, Ana Carolina comemora ainda o sucesso da música “Problemas”, que faz parte da trilha sonora da novela “Fina Estampa”, da TV Globo. A faixa, produzida isoladamente, acabou sendo incluída em “Ensaio de Cores Ao Vivo”, já que a cantora não tem previsão de lançar um novo álbum de inéditas em um curto prazo.
Em 2011, além de excursionar com seu projeto ‘pictórico-musical’, Ana Carolina arrumou espaço em sua aquarela para ouvir e assistir a novos trabalhos, especialmente de alguns amigos. “Eu gostei muito do show do Filipe Catto. E gosto muito do disco da minha querida amiga Maria Gadú. Acho ela f..., gosto dela pra caramba. No próximo disco dela tem uma parceria nossa, chamada ‘Reis’. E também gosto muito da Thaís Gulin”, indica.
Fonte: Uol
Postado em 12 Dezembro de 2011 pela equipe do blog
Postado em 12 Dezembro de 2011 pela equipe do blog
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