'Não uso drogas, jamais. Tomo meu vinho e olhe lá', diz Ana Carolina


Cantora de 37 anos lança o CD ' Ensaio de Cores' e fala ao 'JT' sobre trabalho e vida pessoal

Novo CD de Ana Carolina representa a união entre
a música e a pintura

Ana Carolina é uma pessoa intensa. Inquieta. É capaz de ficar seis horas seguidas pintando telas, mas depois não consegue olhar para essas obras sem ter a vontade de dar mais um retoquezinho. A música pode surgir num momento inesperado que a leva a empunhar violão, ou nos muitos saraus em sua casa no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, já frequentado por gente como Norah Jones e Madeleine Peyroux.
Com esse jorro criativo, Ana Carolina decidiu unir música e pintura no novo disco Ensaio de Cores (Sony Music). Desta vez com uma banda só de mulheres, tocando inéditas e releituras. Em conversa com o JT, a mineira de Juiz de Fora, de 37 anos, falou de trabalho e vida pessoal. Com objetividade. Do jeito que ela gosta.

Ensaio de Cores tem faixas representativas dessa união entre música e pintura, como Rai das Cores e As Telas e Elas. Como foi a elaboração desse disco?
Estava com a casa cheia de telas e fiquei pensando no que fazer com elas. Aí resolvi fazer esse show, que seria a exposição das obras, com parte da renda revertida para a Associação de Diabetes Juvenil. Pensei no Rai das Cores, fiz As Telas e Elas, botei o Azul e disse: “Já tem um núcleo de músicas para fazer sentido com as telas que são exibidas no foyer e projetadas no palco durante o show”.

Em um vídeo seu, em que está pintando, você aparenta fazer um trabalho bem instintivo. Tem sido mesmo dessa forma?
O que eu tenho dito é que tem um cara chamado Basquiat, que vivia, pintava, comia, andava, dormia, tudo em cima das telas. Depois as expunha e isso me chamou bastante atenção, porque a maneira como faço música é muito parecida. Aconteceu alguma coisa aqui, pego o violão. É meio aqui e agora. Percebi que não importa somente o que você vê no quadro, mas a atitude do que foi feito na hora que a figura estava pintando. Quero a comunicabilidade visual, muito mais do que a beleza.

Você fez uma exposição, recentemente, na galeria Romero Britto, com renda revertida para a ADJ. Quanto custam suas obras?
O que me ensinaram é que um iniciante pode cobrar de R$ 3 mil a R$ 10 mil o metro quadrado.

Encara a pintura como algo a se fazer despretensiosamente?
Totalmente. Nem quero ser chamada de pintora, acho que preciso de mais dez anos pra isso (risos).



 

Você descobriu ter diabetes aos 16 anos. Por conta disso, você se mantém longe do álcool?
Eu tomo meus vinhos, sim. A gente não tá morto não, viu? (risos) Você só não pode tomar um porre e perder a noção do perigo. E tem de ficar especialmente atento, porque quatro horas depois do último gole pode ter uma hipoglicemia.

E drogas, você já teve envolvimento com alguma?
Não uso drogas, jamais, em hipótese alguma. Tenho pa-vor de drogas. Todas. Tomo meu vinho e olhe lá.

Você contou, em entrevista, que seu pai foi amante da sua mãe e ele tinha outra família. Ele morreu quando você tinha dois meses, mas você cresceu sabendo disso. Como foi lidar com a situação?
Foi superdifícil, porque eu sabia, mas não podia falar nada. Hoje, sou superamiga da minha irmã, amiga da família do meu pai, mas, na época, foi meio barra pesada.

O que foi mais difícil?
Era difícil no colégio não poder falar quem era o pai, colocar o nome. Porque era como se o pai não existisse, como se parte da minha raiz se afundasse e eu não pudesse exibir. Isso era complicado mesmo.

Foi sua irmã quem tem procurou. Antes disso, você nunca havia pensado em procurá-los?

Não, porque a história era da minha mãe, então, não ia tocar nela. Era uma questão de respeito.

Sua irmã te viu numa capa de CD e notou a semelhança, foi isso?
Quando ela olhou, sentiu alguma coisa. Era uma identificação visual, porque embora ela seja bem mais velha do que eu, somos longilíneas, ela também tem a testa grande. A gente é superparecida. Inclusive, no jeito de falar, o gestual. A gente se conhece há dez anos. A gente ri, é uma genética assustadora (risos). Eu tenho um irmão também, o Fernando.

Deve ter dado um frio na barriga esse primeiro encontro?
Deu mesmo. Eu ficava olhando pra ela pra ver o que parecia. A marca no dedo, o pé, o umbigo. Foi um negócio engraçadíssimo.

Depois de declarar publicamente ser bissexual, você contou que as pessoas continuaram ouvindo sua música, indo a shows. Mas, em algum momento, foi vítima de preconceito?
Não, em momento nenhum. Acho que o pessoal não tá nem aí pra minha opção sexual. No plano pessoal, também não tive problemas. Te garanto. Porque se tivesse, diria, inclusive, o nome da pessoa, porque eu sou louca.



A militância gay já reclamou de você não levantar bandeira, não tocar nas casas que frequentam…
Nunca fui convidada para uma passeata gay. Já vi vários artistas que são chamados, inclusive, amigos meus. A Preta Gil está lá direto. Ela é minha amiga.

Está namorando?
Estou solteira.

Pensa em se casar?
O casamento é uma coisa meio boba. Ele tem uma coisa terrível que faz do dia que você diz sim o mais importante de todos os seus dias futuros onde você, teoricamente, não pode romper aquele laço. Estou muito distante de dizer hoje o que pretendo fazer, seguramente, para o resto da minha vida. Não preciso assinar papel nenhum para amar alguém, nem para provar nada. Mas mudo muito. Estou dizendo isso hoje, mas posso mudar de ideia amanhã de manhã.

Aliás, você disse que congelaria óvulos seus para o futuro…
Pois é… Quero fazer esse negócio, mas não é tão fácil quanto imaginei. Não se resolve numa tarde.

Você fez um ensaio com vestido vermelho, mas disse que não gosta muito de vestido. O que você tem no seu guarda-roupa?
Só tenho roupa preta (risos) Aiai… Tenho lá uma jaqueta jeans, vai, mas não gosto muito dessa coisa de cor no corpo.

Costuma dar festas na sua casa?
Sim, promovo saraus aqui. Trago meus amigos músicos e já tive gente da pesada. Norah Jones já veio, Madeleine Peyroux, Maria Gadú, Dudu Falcão, Edu Krieger, Jorge Vercillo, Antonio Villeroy. Surge muita música. É uma troca incrível. Faço questão. Adoro.

Você disse que percebeu a fama quando alguém veio te pedir um autógrafo e, a partir daí, você fez terapia. De que maneira isso teve impacto em sua vida?
É muito legal fazer sucesso, ser reconhecido por aquilo que você faz. Adoro e acho que não trocaria por nada. Agora, se eu vou numa disco, por exemplo, o problema não é o fã que vem falar comigo. Adoro, tiro foto. O problema é a observação. Às vezes, o cara nem é teu fã e fica naquela cutucada ali, falando alguma coisa de você o tempo todo. Tem hora que incomoda, porque tira sua liberdade mesmo de ser. Você sabe que está sendo vigiado, pô. Você fica meio grilado.

Por causa disso, você evita lugares com muita gente?
Não. Eu, naturalmente, não saio, porque não saio mesmo. Não tem nada a ver com essa coisa de ser reservada, não. Mas quando eu saio, saio pra valer, vou pros lugares, porque também eu não vou ficar me escondendo.

Fonte: Estadao
Postado em 19 de Dezembro de 2011 pela equipe do blog


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